Museu de Artes e Ofícios
Eventos deste organizador
Dezembro
17Nov(Nov 17)19:0027Jan(Jan 27)17:00ILÊ DE MONA* – exposição de Bárbara Macedo
detalhes do evento
“A gente precisa se inventar. Segunda fui pro barracão fazer função de Exu e fiquei
detalhes do evento
“A gente precisa se inventar. Segunda fui pro barracão fazer função de Exu e fiquei até 06:30 da manhã de terça. Seis travestis juntas. Contando as verdades sobre todas as nossas mentiras. Debochando de todas as mentiras que já contamos. Menosprezando a verdade que nos violenta”.
A fala acima, de Bárbara Macedo, é retrato de como funciona o universo das “verdades” instituídas em relação às monas (do tipo “ela não pode ser tratada no feminino”, “ela é uma fraude pra ciência” e por aí vai). Mas o que a artista relata me leva também a pensar em certas divisões entre o falso e o verdadeiro, em nossa mania, por exemplo, de colocar o mítico de um lado e a coisa real, a “coisa séria”, de outro. É a ideia de que a filosofia nasce quando ultrapassamos o mito. Katiúscia Ribeiro, por sua vez, vem lembrar que no pensamento africano os mitos são formas de entendimento de tudo que há e que, contrariamente à tradição ocidental “onde o amanhã supera o ontem”, eles “nos convidam a conversar com o tempo”. Nessa trilha de conhecimento e diálogo com o tempo, seguem as festas de Exu Tranca Ruas e da Pombagira Yasmin, registradas por Babi nas fotos de “Existências Contínuas”. Nessas ocasiões todas as travestis convertem-se numa única existência: trata-se do ancestral que passa a habitá-las e a vesti-las, como algo “postiço” que as abraça, uma “prótese” pra além das que possam ter – as unhas falsas, o megahair, o silicone. Nas festas todas recebem essa “existência postiça”, segundo Bárbara, uma espécie de veste espiritual com que se conectam umas às outras e ao mundo dos mortos. Esses, aliás, são presenças reais ali, dando sentido à vida. Na noção de verdade do Ocidente, no entanto, os mortos costumam ser meras lembranças do passado ou puro esquecimento do que se acabou. Cá pra nós, há muito a aprender com o que Babi nos oferece, essa “prótese mítica”.
Ainda me vem à cabeça agora que existe um jeito debochadamente gentil de enxergarmos a arte como farsa quando dizemos: “ah, mas isso é invenção, é só um quadro, só um filme, um conto”. A arte, assim, parece divertir e enfeitar a vida, é tão dócil e ficcional que temos a impressão de que ela nunca criou nossas convicções sobre beleza, nunca moldou as caras de santos ou de deuses, nunca forjou nossos medos e nem consolidou, ao representar o real, a própria noção de realidade que temos. Nada disso. A arte é, de fato, uma mentira poderosíssima. Já foi arma de faraós, imperadores. Por que não ser, então, um instrumento travesti? É o que acontece na reconfiguração do mundo que Bárbara fabrica em “Oráculo das Ancestravas”. No conjunto, ao invés de nos mostrar as reportagens sobre violências a que as monas são expostas e que cremos ser o único espelho possível do cotidiano, a artista nos apresenta, de maneira alegre (e a alegria é uma força trava!), o sucesso e as realizações dessa população. A série vem em faixas de rua, das que celebram uma formatura ou anunciam o sumiço de um poodle. Nesse aspecto o suporte em si é um apelo à realidade mais corriqueira e palpável, dando substância à mentira mais realista, mais inauguradora de verdade que se possa imaginar.
Pensando melhor, o termo mentira não funciona bem neste texto. O que Babi faz é macumba, vocábulo que podemos traduzir como “reunião de poetas feiticeiros”. Bárbara Macedo, ao reconstruir a verdade como boa feiticeira que é, convida à reinvenção de nossa caminhada no planeta. Ela nos convida a aquendar, palavra incrível da língua travesti e que vem do quimbundo, com significado de caminhar. Nem mentira nem verdade, afinal. Arte pra viver, porque viver é aquendar.
Marta Neves
*No pajubá “ilê de mona” pode ser entendido como “terreiro de travesti”.
Museu de Artes e Ofícios
Abertura 17.11.2023 de 19h às 22h
Visitação de 18.11.23 a 27.01.2024
Terça a Sexta de 11h às 16h Sábado de 09h às 17h
Obs.: o Museu não estará aberto entre os dias 25 de dezembro 2023 e 08 de janeiro de 2024.
Mais
Tempo
Novembro 17 (Sexta-feira) 19:00 - Janeiro 27 (Sábado) 17:00
Localização
Museu de Artes e Ofícios
Praça Rui Barbosa, 600 - Centro
Organizador
17Nov(Nov 17)19:0027Jan(Jan 27)17:00BICHOS – Exposição de Fernando Cardoso
detalhes do evento
Museu de Artes e Ofícios Abertura 17.11.2023 de 19h às 22h Visitação de 18.11.23
detalhes do evento
Museu de Artes e Ofícios
Abertura 17.11.2023 de 19h às 22h
Visitação de 18.11.23 a 27.01.2024
Terça a Sexta de 11h às 16h Sábado de 09h às 17h
Obs.: o Museu não estará aberto entre os dias 25 de dezembro 2023 e 08 de janeiro de 2024.
BICHOS – exposição de Fernando Cardoso
Cachorros, baleias, monstros, serpentes, cavalos, aves, homens, todos bichos, enfim, parece que vieram, de um fundo de água e sono, pra ocupar o espaço em torno de nós. É possível que estivéssemos dormindo quando apareceram ou pode ser outra coisa: sabe as vezes em que você aperta as pálpebras fechadas e umas manchas surgem, permanecendo mesmo depois dos olhos se abrirem? É essa espécie de irrealidade visível, formigando as retinas, que Fernando Cardoso constrói, é uma invasão igual à experiência dos momentos iniciais da manhã, depois de despertarmos, assolados por sonhos com rostos e focinhos.
Algumas das figuras cruzam seu olhar com o nosso, outras desviam-se pros cantos. Do jeito que for, traça-se, nesses panos suspensos, um território que vai além da superfície da qual os bichos emergem. Mas onde eles nascem?
Fico pensando que a memória tem tanto de nítido quanto de esgarçado, como as bordas dos tecidos no conjunto de desenhos. A memória tem também alguma distorção de si própria. Então volto às manchas nos olhos que foram fechados, apertados. Alguma imagem antiga ficou por ali e foi remodelada, quando cerramos as pálpebras, em borrões diversos de sua forma original. Fernando me disse que a impressão de fantasia dos trabalhos brota das lembranças mais palpáveis, principalmente as da infância. A égua que morreu no bairro Cachoeirinha, na esquina de casa, com a barriga inchada de esquecida por dias, a bacia posta embaixo do caixão da vizinha Dona Belmira, guardando os líquidos que escorriam do corpo no velório caseiro, a família perseguida pela PM na ditadura militar, esperando a morte de seu cachorro, fuzilado pelos policiais em castigo por serem os donos gente subversiva (a subversão fundamental, desde lá até hoje, é ser pobre) são parte do rio de recordações que o artista torce e transforma em outras imagens, como aquelas máculas que se formam em nossas vistas quando as tampamos com força. Tudo isso, aliás, já estava presente, de certa maneira, na manifestação mais trivial do menino que, aos cinco anos de idade, ia tomar injeção e dizia: “foi uma delícia”. Desde essa época, Fernando costumava traduzir o trágico ou o ordinário nalgum tipo de beleza.
O tecido que ele usa em seus desenhos possui uma fragilidade, uma falibilidade de memória. Daí prestar-se tão bem a isso de tirar maravilha do horror, do precário, construindo, pela inexatidão das lembranças do que é feio e doído, um universo de deleite. É um hedonismo vindo da merda, onde a aquarela tem a propriedade mágica da transformação, semelhante aos primeiros artistas, os da chamada Pré-História, que atiravam flechas nas paredes das cavernas pra atingir a pele da caça que acreditavam estar viva lá em suas pinturas.
Retorno às tais manchas mencionadas anteriormente. Quando vamos dormir, por exemplo, atrelados ainda aos acontecimentos do dia antes do desmaio final, vemos as mesmas formas irreais que se montam nos olhos fechados. Elas ficam dançando. “Essas manchas não existem, não são nada” – é o que você pensa, mas vai passar a vida inteira apertando as vistas, fechando e abrindo os olhos e elas vão voltar. Como os bichos do Fernando.
Marta Neves
Mais
Tempo
Novembro 17 (Sexta-feira) 19:00 - Janeiro 27 (Sábado) 17:00
Localização
Museu de Artes e Ofícios
Praça Rui Barbosa, 600 - Centro
Organizador
17Nov(Nov 17)19:0027Jan(Jan 27)17:00Exposição Piolho Nababo Leilão Popular de Arte
detalhes do evento
Museu de Artes e OfíciosAbertura 17.11.2023 de 19h às 22hVisitação de 18.11.23 a 27.01.2024Terça a Sexta de 11h às 16h Sábado de 09h
detalhes do evento
Museu de Artes e Ofícios
Abertura 17.11.2023 de 19h às 22h
Visitação de 18.11.23 a 27.01.2024
Terça a Sexta de 11h às 16h Sábado de 09h às 17h
Obs.: o Museu não estará aberto entre os dias 25 de dezembro 2023 e 08 de janeiro de 2024.
Galeria Itinerante Piolho do Arraial
Alô pessoal que achou que a arte tinha acabado, ainda não foi dessa vez!
Pra celebrar mais um ano de pindaíba, o coletivo Piolho Nababo, em parceria com a ocupação Maria do Arraial, o JA.CA – Centro de Arte e Tecnologia e o Museu de Artes e Ofícios convida artistas e coletivos de Belo Horizonte a participar de uma galeria itinerante que terminará em mais um leilão popular de arte: o Leilão de Artes e Ofícios Piolho do Arraial R$1,99.
Ocupação Maria do Arraial. A exposição coletiva itinerante Piolho do Arraial teve início no dia 27 de outubro, na Ocupação Maria do Arraial, situada à rua da Bahia, 1065. A ocupação
foi criada em agosto de 2023 e o nome é uma homenagem a Maria do Arraial, também conhecida como “Maria Papuda”, mulher negra e pobre que morava onde atualmente é o
Palácio da Liberdade e resistiu a um dos primeiros despejos forçados da história do município.
Museu de Artes e Ofícios. Depois de passar pela Ocupação Maria do Arraial, os trabalhos foram levados em um cortejo até o Museu de Artes e Ofícios, na Praça da Estação, no dia
17 de novembro. A partir de então, as obras ficam expostas no museu até 27 de janeiro, quando o Leilão de Artes e Ofícios Piolho do Arraial R$1,99 acontece no saguão principal
do prédio, com direito a banda, performances, cerveja e churrasquinho.
Como já é costume, a exposição itinerante Piolho do Arraial está aberta a qualquer artista ou coletivo interessado, e o valor da venda de cada trabalho deve ser doado parcial ou
integralmente ao Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas. Bora fazer parte desse esquema, botar os trabalhos pra circular e de quebra fortalecer a luta por moradia?
Prego e martelo por conta da casa!
Calendário
27 de outubro até 17 de novembro
Galeria Itinerante Piolho do Arraial, na Ocupação Maria do Arraial
17 de novembro (sexta), às 17h
Cortejo Piolho Nababo, da Ocupação Maria do Arraial até o Museu de Artes e Ofícios
17 de novembro até 27 de janeiro
Galeria Itinerante Piolho do Arraial, no Museu de Artes e Ofícios
27 de janeiro (sexta), às 19h
Leilão de Artes e Ofícios Piolho do Arraial R$1,99
Mais
Tempo
Novembro 17 (Sexta-feira) 19:00 - Janeiro 27 (Sábado) 17:00
Localização
Museu de Artes e Ofícios
Praça Rui Barbosa, 600 - Centro
Organizador
Janeiro
17Nov(Nov 17)19:0027Jan(Jan 27)17:00ILÊ DE MONA* – exposição de Bárbara Macedo
detalhes do evento
“A gente precisa se inventar. Segunda fui pro barracão fazer função de Exu e fiquei
detalhes do evento
“A gente precisa se inventar. Segunda fui pro barracão fazer função de Exu e fiquei até 06:30 da manhã de terça. Seis travestis juntas. Contando as verdades sobre todas as nossas mentiras. Debochando de todas as mentiras que já contamos. Menosprezando a verdade que nos violenta”.
A fala acima, de Bárbara Macedo, é retrato de como funciona o universo das “verdades” instituídas em relação às monas (do tipo “ela não pode ser tratada no feminino”, “ela é uma fraude pra ciência” e por aí vai). Mas o que a artista relata me leva também a pensar em certas divisões entre o falso e o verdadeiro, em nossa mania, por exemplo, de colocar o mítico de um lado e a coisa real, a “coisa séria”, de outro. É a ideia de que a filosofia nasce quando ultrapassamos o mito. Katiúscia Ribeiro, por sua vez, vem lembrar que no pensamento africano os mitos são formas de entendimento de tudo que há e que, contrariamente à tradição ocidental “onde o amanhã supera o ontem”, eles “nos convidam a conversar com o tempo”. Nessa trilha de conhecimento e diálogo com o tempo, seguem as festas de Exu Tranca Ruas e da Pombagira Yasmin, registradas por Babi nas fotos de “Existências Contínuas”. Nessas ocasiões todas as travestis convertem-se numa única existência: trata-se do ancestral que passa a habitá-las e a vesti-las, como algo “postiço” que as abraça, uma “prótese” pra além das que possam ter – as unhas falsas, o megahair, o silicone. Nas festas todas recebem essa “existência postiça”, segundo Bárbara, uma espécie de veste espiritual com que se conectam umas às outras e ao mundo dos mortos. Esses, aliás, são presenças reais ali, dando sentido à vida. Na noção de verdade do Ocidente, no entanto, os mortos costumam ser meras lembranças do passado ou puro esquecimento do que se acabou. Cá pra nós, há muito a aprender com o que Babi nos oferece, essa “prótese mítica”.
Ainda me vem à cabeça agora que existe um jeito debochadamente gentil de enxergarmos a arte como farsa quando dizemos: “ah, mas isso é invenção, é só um quadro, só um filme, um conto”. A arte, assim, parece divertir e enfeitar a vida, é tão dócil e ficcional que temos a impressão de que ela nunca criou nossas convicções sobre beleza, nunca moldou as caras de santos ou de deuses, nunca forjou nossos medos e nem consolidou, ao representar o real, a própria noção de realidade que temos. Nada disso. A arte é, de fato, uma mentira poderosíssima. Já foi arma de faraós, imperadores. Por que não ser, então, um instrumento travesti? É o que acontece na reconfiguração do mundo que Bárbara fabrica em “Oráculo das Ancestravas”. No conjunto, ao invés de nos mostrar as reportagens sobre violências a que as monas são expostas e que cremos ser o único espelho possível do cotidiano, a artista nos apresenta, de maneira alegre (e a alegria é uma força trava!), o sucesso e as realizações dessa população. A série vem em faixas de rua, das que celebram uma formatura ou anunciam o sumiço de um poodle. Nesse aspecto o suporte em si é um apelo à realidade mais corriqueira e palpável, dando substância à mentira mais realista, mais inauguradora de verdade que se possa imaginar.
Pensando melhor, o termo mentira não funciona bem neste texto. O que Babi faz é macumba, vocábulo que podemos traduzir como “reunião de poetas feiticeiros”. Bárbara Macedo, ao reconstruir a verdade como boa feiticeira que é, convida à reinvenção de nossa caminhada no planeta. Ela nos convida a aquendar, palavra incrível da língua travesti e que vem do quimbundo, com significado de caminhar. Nem mentira nem verdade, afinal. Arte pra viver, porque viver é aquendar.
Marta Neves
*No pajubá “ilê de mona” pode ser entendido como “terreiro de travesti”.
Museu de Artes e Ofícios
Abertura 17.11.2023 de 19h às 22h
Visitação de 18.11.23 a 27.01.2024
Terça a Sexta de 11h às 16h Sábado de 09h às 17h
Obs.: o Museu não estará aberto entre os dias 25 de dezembro 2023 e 08 de janeiro de 2024.
Mais
Tempo
Novembro 17 (Sexta-feira) 19:00 - Janeiro 27 (Sábado) 17:00
Localização
Museu de Artes e Ofícios
Praça Rui Barbosa, 600 - Centro
Organizador
17Nov(Nov 17)19:0027Jan(Jan 27)17:00BICHOS – Exposição de Fernando Cardoso
detalhes do evento
Museu de Artes e Ofícios Abertura 17.11.2023 de 19h às 22h Visitação de 18.11.23
detalhes do evento
Museu de Artes e Ofícios
Abertura 17.11.2023 de 19h às 22h
Visitação de 18.11.23 a 27.01.2024
Terça a Sexta de 11h às 16h Sábado de 09h às 17h
Obs.: o Museu não estará aberto entre os dias 25 de dezembro 2023 e 08 de janeiro de 2024.
BICHOS – exposição de Fernando Cardoso
Cachorros, baleias, monstros, serpentes, cavalos, aves, homens, todos bichos, enfim, parece que vieram, de um fundo de água e sono, pra ocupar o espaço em torno de nós. É possível que estivéssemos dormindo quando apareceram ou pode ser outra coisa: sabe as vezes em que você aperta as pálpebras fechadas e umas manchas surgem, permanecendo mesmo depois dos olhos se abrirem? É essa espécie de irrealidade visível, formigando as retinas, que Fernando Cardoso constrói, é uma invasão igual à experiência dos momentos iniciais da manhã, depois de despertarmos, assolados por sonhos com rostos e focinhos.
Algumas das figuras cruzam seu olhar com o nosso, outras desviam-se pros cantos. Do jeito que for, traça-se, nesses panos suspensos, um território que vai além da superfície da qual os bichos emergem. Mas onde eles nascem?
Fico pensando que a memória tem tanto de nítido quanto de esgarçado, como as bordas dos tecidos no conjunto de desenhos. A memória tem também alguma distorção de si própria. Então volto às manchas nos olhos que foram fechados, apertados. Alguma imagem antiga ficou por ali e foi remodelada, quando cerramos as pálpebras, em borrões diversos de sua forma original. Fernando me disse que a impressão de fantasia dos trabalhos brota das lembranças mais palpáveis, principalmente as da infância. A égua que morreu no bairro Cachoeirinha, na esquina de casa, com a barriga inchada de esquecida por dias, a bacia posta embaixo do caixão da vizinha Dona Belmira, guardando os líquidos que escorriam do corpo no velório caseiro, a família perseguida pela PM na ditadura militar, esperando a morte de seu cachorro, fuzilado pelos policiais em castigo por serem os donos gente subversiva (a subversão fundamental, desde lá até hoje, é ser pobre) são parte do rio de recordações que o artista torce e transforma em outras imagens, como aquelas máculas que se formam em nossas vistas quando as tampamos com força. Tudo isso, aliás, já estava presente, de certa maneira, na manifestação mais trivial do menino que, aos cinco anos de idade, ia tomar injeção e dizia: “foi uma delícia”. Desde essa época, Fernando costumava traduzir o trágico ou o ordinário nalgum tipo de beleza.
O tecido que ele usa em seus desenhos possui uma fragilidade, uma falibilidade de memória. Daí prestar-se tão bem a isso de tirar maravilha do horror, do precário, construindo, pela inexatidão das lembranças do que é feio e doído, um universo de deleite. É um hedonismo vindo da merda, onde a aquarela tem a propriedade mágica da transformação, semelhante aos primeiros artistas, os da chamada Pré-História, que atiravam flechas nas paredes das cavernas pra atingir a pele da caça que acreditavam estar viva lá em suas pinturas.
Retorno às tais manchas mencionadas anteriormente. Quando vamos dormir, por exemplo, atrelados ainda aos acontecimentos do dia antes do desmaio final, vemos as mesmas formas irreais que se montam nos olhos fechados. Elas ficam dançando. “Essas manchas não existem, não são nada” – é o que você pensa, mas vai passar a vida inteira apertando as vistas, fechando e abrindo os olhos e elas vão voltar. Como os bichos do Fernando.
Marta Neves
Mais
Tempo
Novembro 17 (Sexta-feira) 19:00 - Janeiro 27 (Sábado) 17:00
Localização
Museu de Artes e Ofícios
Praça Rui Barbosa, 600 - Centro
Organizador
17Nov(Nov 17)19:0027Jan(Jan 27)17:00Exposição Piolho Nababo Leilão Popular de Arte
detalhes do evento
Museu de Artes e OfíciosAbertura 17.11.2023 de 19h às 22hVisitação de 18.11.23 a 27.01.2024Terça a Sexta de 11h às 16h Sábado de 09h
detalhes do evento
Museu de Artes e Ofícios
Abertura 17.11.2023 de 19h às 22h
Visitação de 18.11.23 a 27.01.2024
Terça a Sexta de 11h às 16h Sábado de 09h às 17h
Obs.: o Museu não estará aberto entre os dias 25 de dezembro 2023 e 08 de janeiro de 2024.
Galeria Itinerante Piolho do Arraial
Alô pessoal que achou que a arte tinha acabado, ainda não foi dessa vez!
Pra celebrar mais um ano de pindaíba, o coletivo Piolho Nababo, em parceria com a ocupação Maria do Arraial, o JA.CA – Centro de Arte e Tecnologia e o Museu de Artes e Ofícios convida artistas e coletivos de Belo Horizonte a participar de uma galeria itinerante que terminará em mais um leilão popular de arte: o Leilão de Artes e Ofícios Piolho do Arraial R$1,99.
Ocupação Maria do Arraial. A exposição coletiva itinerante Piolho do Arraial teve início no dia 27 de outubro, na Ocupação Maria do Arraial, situada à rua da Bahia, 1065. A ocupação
foi criada em agosto de 2023 e o nome é uma homenagem a Maria do Arraial, também conhecida como “Maria Papuda”, mulher negra e pobre que morava onde atualmente é o
Palácio da Liberdade e resistiu a um dos primeiros despejos forçados da história do município.
Museu de Artes e Ofícios. Depois de passar pela Ocupação Maria do Arraial, os trabalhos foram levados em um cortejo até o Museu de Artes e Ofícios, na Praça da Estação, no dia
17 de novembro. A partir de então, as obras ficam expostas no museu até 27 de janeiro, quando o Leilão de Artes e Ofícios Piolho do Arraial R$1,99 acontece no saguão principal
do prédio, com direito a banda, performances, cerveja e churrasquinho.
Como já é costume, a exposição itinerante Piolho do Arraial está aberta a qualquer artista ou coletivo interessado, e o valor da venda de cada trabalho deve ser doado parcial ou
integralmente ao Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas. Bora fazer parte desse esquema, botar os trabalhos pra circular e de quebra fortalecer a luta por moradia?
Prego e martelo por conta da casa!
Calendário
27 de outubro até 17 de novembro
Galeria Itinerante Piolho do Arraial, na Ocupação Maria do Arraial
17 de novembro (sexta), às 17h
Cortejo Piolho Nababo, da Ocupação Maria do Arraial até o Museu de Artes e Ofícios
17 de novembro até 27 de janeiro
Galeria Itinerante Piolho do Arraial, no Museu de Artes e Ofícios
27 de janeiro (sexta), às 19h
Leilão de Artes e Ofícios Piolho do Arraial R$1,99
Mais
Tempo
Novembro 17 (Sexta-feira) 19:00 - Janeiro 27 (Sábado) 17:00
Localização
Museu de Artes e Ofícios
Praça Rui Barbosa, 600 - Centro